domingo, 3 de outubro de 2010

Lembranças

Deixastes de me amar!
Só não sei em que momento.
Antes, minhas mãos cabiam dentro das tuas, acentuavam nossos traços semelhantes e nos mostravam a etimologia maternal que perdestes quando fostes embora.
O Amor não acaba, simplesmente se transforma e o teu me transformou num monstro. Como se minhas virtudes te fizessem mal.
Teu perfume enaltecia a beleza das rosas que havia dentro de mim, um mundo multicolorido que me trazia o desejo de que fossem eternas as caminhadas ao fim de tarde.
Tua perfeição não era o meu exemplo, mas tuas doces palavras me persuadiam enquanto teus pés tocavam sem pressa o chão, a contra gota me trazias a esperança de uma vida mais feliz.
Posso me lembrar do jeito como trançavas os meus cabelos, lembranças de quando vivi dentro de um algodão.
Tardes e tranças que ficaram para trás.
Hoje prepotente enfraqueces o fio de vida que ainda tenho em mim.
Naufragamos! Sim, naufragamos quando ainda tínhamos tanto mar a navegar. Hoje não coesas como antes, mas submersas, inimigas numa batalha psíquica que destrói tanto você quanto a mim.
Eu não te conheço mais!
Ausentastes-te por muito tempo, teu rosto já não me é familiar.
Pena o tempo não ser retrógrado e não nos dá outra chance.
Se aquele inverno voltasse...  Talvez não saísse sem casaco.
Meu coração já não suporta tantas cicatrizes e quando mesmo despercebida me causas outra ferida, fujo de ti!
Corro incansavelmente para onde possa me proteger de quem se transformastes.
Mas não consigo por muito tempo, pois renegar a ti é reconhecer que desconheço a mim e devo dizer que não há ninguém no mundo que ache tanto de mim em si.
Saio da tua direção tentando ser a única irresponsável por nós.
Seria demais que me entendesse, não foi isso que te pedi, nem eu agüento e me entendo por completo.
Talvez eu seja apenas sua parte corajosa que sempre quis esconder, afinal com tanta ousadia o que faria com a covardia que te faz viver?  Foi por isso que voltastes, não por mim, mas por você.
E quem sempre perde tudo sou eu! Não se encorajas pra nada e compromete tudo que há em mim.
Só te lembras que existo nas horas tristes, quando me resumis há uma noite sem estrelas.
Deixastes-me só numa selva de realidade, onde tive apenas súbitas fantasias que nunca me levaram a lugar algum.
Eu adoro esses vidros, através dele vejo a alma que nunca me mostrastes.
Desmemoriada, Ingrata!
Pintas tua boca com o sangue que derramou de mim, o que mostras exibida são minhas tristezas estampadas nestes penduricalhos que se acomodam perfeitamente em ti.
As mãos que me acolheram, também me  trouxeram os frutos mais amargos que comi.
Escrevo porque me tirastes a capacidade de dizer.
Estamos tão misturadas que já não distingo se falo de mim ou de você.


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